REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO

Delors (1998) aponta como principal conseqüência da sociedade do conhecimento a necessidade de uma “aprendizagem ao longo de toda a vida” fundada em quatro pilares que são ao mesmo tempo pilares do conhecimento e da formação continuada.

Esses pilares podem ser tomados também como bússola para nos orientar rumo ao futuro da educação.

a) Aprender a conhecer: Prazer de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade, autonomia, atenção. Inútil tentar conhecer tudo. Isso supõe uma cultura geral, o que não prejudica o domínio de certos assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que aprender a aprender. Aprender mais linguagens e metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas "pensar pensamentos", pensar o já dito, o já feito, reproduzir o pensamento. É preciso pensar também o novo, reinventar o pensar, pensar e reinventar o futuro;

b) Aprender a fazer: É indissociável do aprender a conhecer. A substituição de certas atividades humanas por máquinas acentuou o caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou de ser puramente instrumental. Nesse sentido, vale mais hoje a competência pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar novas situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe, do que a pura qualificação profissional. Hoje, o importante na formação do trabalhador, também do trabalhador em educação, é saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa, gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber resolver conflitos, ter estabilidade emocional. Essas são, acima de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial. Existem hoje perto de 11 mil funções na sociedade contra aproximadamente 60 profissões oferecidas pelas universidades. Como as profissões evoluem muito rapidamente, não basta preparar-se profissionalmente para um trabalho;

c) Aprender a viver juntos: a viver com os outros. Compreender o outro, desenvolver a percepção da interdependência, da não-violência, administrar conflitos. Descobrir o outro, participar em projetos comuns. Ter prazer no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa é a tendência. No Brasil, como exemplo desta tendência, pode-se citar a inclusão de temas/eixos transversais (ética, ecologia, cidadania, saúde, diversidade cultural) nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que exigem equipes interdisciplinares e trabalho em projetos comuns;

d) Aprender a ser: Desenvolvimento integral da pessoa: inteligência, sensibilidade, sentido ético e estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa. Para isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de cada indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico-matemática e lingüística. Precisa ser integral.

A educação do futuro engloba categorias que merecem reflexão. Como exemplo pode-se citar:

a) Cidadania: Educar para a cidadania ativa tornou-se hoje projeto e programa de muitas escolas e de sistemas educacionais;

b) Planetaridade: O tema da cidadania planetária pode e deve ser discutido;

c) Sustentabilidade: este tema deverá dominar muitos debates educativos das próximas décadas;

d) Virtualidade: discussão atual sobre a educação a distância e o uso dos computadores nas escolas;

e) Globalização: O processo da globalização está mudando a política, a economia, a cultura, a história e, portanto, também a educação. É um tema que deve ser enfocado sob vários prismas. Para pensar a educação do futuro, é necessário refletir sobre o processo de globalização da economia, da cultura e das comunicações.

Em relação à Educação muitos são os desafios e a reflexão crítica não basta, como também não basta a prática sem a reflexão sobre ela. O que na realidade há de se buscar é a educação do futuro, como dizia o educador polonês, Doutor Bogdan Suchodolski.




[1] Jacques Delors é coordenador do "Relatório para a Unesco da Comissão Internacional Sobre Educação para o Século XXI".

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